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domingo, 5 de julho de 2009

A feiticeira ilusão

Histórias que a menina-serpente contou
Ilma Maria Canauna
Fábio Cardoso dos Santos
Tati Móes
São Paulo: Cortez, 2007

A feiticeira da Ilusão


Conversando com Ecubu, perguntamos-lhes como a Terra nasceu, e la nos contou...

-Ah, essa é uma história daquelas em que ninguém acredita porque aconteceu antes do Tempo dos Espelhos, no amanhã do novo alvorecer. Primeiro foram criados muitos mundos e não se esperava por este.

Havia três guerreiros gêmeos valentes que viviam pelo espaço formando estrelas. Um dia, eles brincavam com as estrelas quando, de repente, notaram uma meiga mulher, a Roda do Tempo, que tinha por trabalho criar mundos. Os irmãos tentaram atrair sua atenção, mas ela não os atendeu e continuou fazendo seu trabalho.

Então, os irmãos decidiram fazer um torneio e quem vencesse ficaria com ela. Para que não pairasse nenhuma dúvida sobre quem seria o vencedor do torneio, chamaram imediatamente o Vento.

O primeiro a lançar o desafio foi Quimbala, o fogo, que com seu calor transformava tudo o que por ele passava. O segundo, Decori, era a água, que com sua mansidão dava vida a tudo que tocava. E o terceiro, Tifuro, a luz, que por onde passava criava e dava vida.

Transcorria o torneio, e quem conseguiu chamar a atenção da Roda do Tempo, a criadora de mundos, casaria com ela. Mas o que os irmãos não sabiam era que Filaco, a feiticeira da ilusão, estava ouvindo tudo e ficou muito enciumada por não ter sido escolhida por nenhum deles.

Filaco planejou uma vingança. Ela esperaria o início do torneiro e, quando um dos irmãos vencesse, se disfarçaria de Roda do Tempo e o trancaria eternamente em seu coração.

Assim, que o torneio começou, Filaco disfarçou-se de nuvem para poder observar tudo sem ser reconhecida. Assim que o dia amanheceu, a criadora de mundos começou seu trabalho.

Quimbala, o fogo, pôs-se a rodopiar à sua volta criando formas inusitadas e transformando tudo o que ela criava, para tentar atrair sua atenção, mas não conseguiu.

O segundo, Decori, também rodopiou em torno dela e criou pingos de água que caíram sobre seu corpo, mas ela não se deteve mais que um segundo e continuou a trabalhar, enquanto as gotas escorriam sobre seu rosto.

Mas Tifuro esperou escurecer e levou a luz do amanhecer ao firmamento. Roda do Tempo ficou hipnotizada com aquela maravilha e com o mesmo encantamento esperou o entardecer. Tifuro criou a Lua e deu-lha de presente.

Em seguida, o Vento proclamou Tifuro vencedor, mas a feiticeira Filaco não quis apenas um irmão, e resolveu aprisionar os três.

Contudo, o Vento, que ouvia pensamentos, logo percebeu o que Filaco tinha em mente e tentou avisar os irmãos. Pegou-os num sopro arrebatador e misturou-os como três elementos principais: água, fogo e luz, que adquiriram muita resistência. Depois, correu para contar à Rodas do Tempo o que estava acontecendo, para que Filaco, em sua paixão, não os machucasse. Então, Roda do Tempo os transformou na Terra.

Filaco, em sua paixão desesperadora, suplicou ao Criador perdão pelo que tentara fazer e pediu-lhe que não a deixasse longe dos três irmãos. Comovido com tamanha dor, o Criador tranformou-a em três plantas: inhame. cará e milho.

... e assim de amor e também de paixão a África foi povoada e a vida se perpetuou...

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Contos africanos


A Gazela e o Caracol

Uma gazela encontrou um caracol e disse-lhe:
__ Tu, caracol, és incapaz de correr, só te arrastas pelo chão.
O caracol respondeu:
__ Vem cá no Domingo e verás!
O caracol arranjou cem papéis e em cada folha escreveu: «Quando vier a gazela e disser "caracol", tu respondes com estas palavras: "Eu sou o caracol"». Dividiu os papéis pelos seus amigos caracóis dizendo-lhes:
__ Leiam estes papéis para que saibam o que fazer quando a gazela vier.
No Domingo a gazela chegou à povoação e encontrou o caracol. Entretanto, este pedira aos seus amigos que se escondessem em todos os caminhos por onde ela passasse, e eles assim fizeram.
Quando a gazela chegou, disse:
__ Vamos correr, tu e eu, e tu vais ficar para trás!
O caracol meteu-se num arbusto, deixando a gazela correr.
Enquanto esta corria ia chamando:
__ Caracol!
E havia sempre um caracol que respondia:
__ Eu sou o caracol.
Mas nunca era o mesmo por causa das folhas de papel que foram distribuídas.
A gazela, por fim, acabou por se deitar, esgotada, morrendo com falta de ar. O caracol venceu, devido à esperteza de ter escrito cem papéis.

Comentário do narrador : «Como tu sabes escrever e nós não, nós cansamo-nos mas tu não. Nós nada sabemos!». Eduardo Medeiros (org.). Contos populares moçambicanos, 1997


Duas Mulheres

Havia duas mulheres amigas, uma que podia ter filhos __ e tinha muitos __ e a outra não.
Um dia, a mulher estéril foi a casa da amiga e convidou-a a visitá-la, dizendo:
__ Amiga, tenho muitas coisas novas em casa, venha vê-las!
__ Está bem __ concordou a outra.
De manhã cedo, a mulher que tinha muitos filhos foi visitar a amiga. Ao chegar a casa desta, chamou-a:
__ Amiga, minha amiga!
Trazia consigo um pano que a mulher estéril aceitou e guardou.
As duas amigas ficaram a conversar, tomando um chá que a dona da casa tinha preparado para as duas. Ao acabarem o chá, a dona da casa quis, então, mostrar à amiga as coisas que tinha comprado. Passaram para a sala e a mulher estéril abriu uma mala mostrando à amiga roupa, brincos, prata e outras coisas de valor.
No final da visita, a mulher que tinha muitos filhos agradeceu, dizendo:
__ Um dia há-de ir a minha casa ver a mala que eu arranjei.
E, um certo dia, a mulher que não tinha filhos, foi a casa da amiga. Mal a viram, os filhos desta gritaram:
__ A sua amiga está aqui!
Agradeceram a peneira que ela trazia na cabeça e guardaram-na. Começaram, então, a preparar o chá.
A mãe das crianças chamava-as uma a uma:
__ Fátima!
__ Mamã?
__ Põe o chá ao lume!
__ Mariamo!
__ Sim?
__ Vai partir lenha!
__ Anja!
__ Sim?
__ Vai ao poço
__ Muacisse!
__ Mamã?
__ Vai buscar açúcar!
__ Muhamede!
__ Sim?
__ Traz um copo!
__ Mariamo!
__ Vamos lá, despacha-te com o chá!
Assim que o chá ficou pronto, tomaram-no e conversaram todos um pouco.
Quando a amiga se ia embora, a mulher que tinha filhos disse:
__ Minha amiga, eu chamei-a para ver a mala que arranjei, mas a minha mala não tem roupa nem brincos! A mala que lhe queria mostrar são os meus filhos!
A mulher que não podia ter filhos ficou muito triste e, antes de chegar a casa, sentiu-se muito mal, com dores de cabeça e acabou por morrer.

Comentário do narrador: coisa não é coisa, coisa é pessoa!



Os Segredos da Nossa Casa

Certo dia, uma mulher estava na cozinha e, ao atiçar a fogueira, deixou cair cinza em cima do seu cão.
O cão queixou-se:
__ A senhora, por favor, não me queime!
Ela ficou muito espantada: um cão a falar! Até parecia mentira...
Assustada, resolveu bater-lhe com o pau com que mexia a comida. Mas o pau também falou:
__ O cão não me fez mal. Não quero bater-lhe!
A senhora já não sabia o que fazer e resolveu contar às vizinhas o que se tinha passado com o cão e o pau.
Mas, quando ia sair de casa a porta, com um ar zangado, avisou-a:
__ Não saias daqui e pensa no que aconteceu. Os segredos da nossa casa não devem ser espalhados pelos vizinhos.
A senhora percebeu o conselho da porta. Pensou que tudo começara porque tratara mal o seu cão. Então, pediu-lhe desculpa e repartiu o almoço com ele.

Comentário : é fundamental sabermos conviver uns com os outros, assegurar o respeito mútuo, embora às vezes seja difícil...

"Eu conto, tu contas, ele conta... Estórias africanas", org. de Aldónio Gomes, 1999


Todos dependem da boca...


Certo dia, a boca, com ar vaidoso, perguntou:
__Embora o corpo seja um só, qual é o órgão mais importante?
Os olhos responderam:
__ O órgão mais importante somos nós: observamos o que se passa e vemos as coisas.
__ Somos nós, porque ouvimos __ disseram os ouvidos.
__ Estão enganados. Nós é que somos mais importantes porque agarramos as coisas, disseram as mãos.
Mas o coração também tomou a palavra:
__ Então e eu? Eu é que sou importante: faço funcionar todo o corpo!
__ E eu trago em mim os alimentos! __ interveio a barriga.
__ Olha! Importante é aguentar todo o corpo como nós, as pernas, fazemos.
Estavam nisto quando a mulher trouxe a massa, chamando-os para comer. Então os olhos viram a massa, o coração emocionou-se, a barriga esperou ficar farta, os ouvidos escutavam, as mãos podiam tirar bocados, as pernas andaram... mas a boca recusou comer. E continuou a recusar.
Por isso, todos os outros órgãos começaram a ficar sem forças...
Então a boca voltou a perguntar:
__ Afinal qual é o órgão mais importante no corpo?
__ És tu boca, responderam todos em coro. Tu é o nosso rei!

Nota: todos nós somos importantes e, para viver, temos de aprender a colaborar uns com os outros...
"Eu conto, tu contas, ele conta... Estórias africanas", org. de Aldónio Gomes, 1999


Uma Idéia Tonta

Um dia a hiena recebeu convite para dois banquetes que se realizavam à mesma hora em duas povoações muito distantes uma da outra. Em qualquer festa era abatido um boi, carne que a hiena é especialmente gulosa.
__ Não há dúvida de que tenho de assistir aos dois banquetes, pois não quero desconsiderar os anfitriões. Também as oportunidades de comer carne de boi não são muitas... mas como hei de fazer, se as festas são em lugares tão distantes um do outro?
A hiena pensou, pensou... e, de repente, bateu com a mão na testa.
__ Descobri! Afinal é simples... __ disse ela, muito contente com a sua esperteza.
Saiu à pressa de casa. Assim que chegou ao local donde partiam os dois caminhos que levavam aos locais das festas, começou a andar pelo caminho que ficava do lado direito com a perna direita e pelo caminho que ficava do lado esquerdo, com a perna esquerda.
Pensava chegar deste modo a ambas as festas ao mesmo tempo. Mas começou a ficar admirada de lhe custar tanto caminhar dessa maneira. E fez tanto esforço, que se sentiu dividir em duas de alto a baixo.
Coitada, lá a levaram ao médico __ que a proibiu, desde logo, de comer carne de boi durante um mês.
É muito tonta a hiena!

"Eu conto, tu contas, ele conta... Estórias africanas", org. de Aldónio Gomes, 1999

A dispersão dos macacos (conto popular de Moçambique)



Antigamente, os macacos viviam num único grupo. Moravam num deserto onde não havia alimentos. Meteram-se, então, aos campos dos homens, para roubar comida; mas os donos guardaram-na. Vendo isso, os macacos combinaram o seguinte: "Tomemos uma macaca, cortemos-lhe o rabo, transformemo-la, façamos dela uma mulher para que casem-se com ela, tenham uma roça e nós aí comemos".

Agarraram numa macaca, cortaram-lhe o rabo e fizeram dela uma mulher. Um homem casou-se com ela e as pessoas abriram-lhe uma roça muito grande. Depois do marido preparar a terra, homem e mulher quiseram semeá-la, mas ela afirmou que podia fazer esse trabalho sozinha. Quando a macaca foi semear, entoou esta canção: Macacos, macacos, Mueé, mueé! Vinde semear o milho

Eles ouviram-na. Semearam o milho e comeram o que sobrou. Mal se criaram as maçarocas (espigas), os macacos chegaram de novo para as comer, mas o marido afugentou-os com a espingarda.

Chegou o dia da colheita. Marido e mulher levaram o milho para casa. Os macacos ficaram furiosos e resolveram colar novamente o rabo à macaca. Levaram o rabo e iam cantando assim: Andemos depressa, entreguemos o rabo à dona ...

Ao ouvirem esta canção, as pessoas ficaram surpreendidas. Os macacos chegaram a cantar e, encontrando a mulher deitada no chão, puseram-lhe o rabo, e logo ela se transformou em macaca, como dantes. A aldeia estava cheia de macacos, mas, quando os homens pegaram nos arcos e nas espingardas, os macacos dispersaram, dois para um lado, três para o outro, e nunca mais se reuniram. Por isso há macacos em toda a parte.

(in Contos Moçambicanos - INLD – 1979)

quarta-feira, 13 de maio de 2009

África: a diversidade num continente






O continente africano é amplamente conhecido pelas suas belezas naturais, principalmente quando se refere à grandiosa vida selvagem. Porém, o que encontramos de imenso neste continente é uma enorme diversidade física e sócio-econômica, pois existe neste espaço desde extensos vales férteis, aonde a vida parece não ter fim, até desertos gigantes, como é o caso do Saara, o maior do mundo. O contraste da pobreza e riqueza também é muito visível por toda sua extensão continental, sendo caracterizado principalmente pelas péssimas condições de vida em muitos países. O termo “berço da humanidade” é dado em razão da África abrigar uma das civilizações mais antigas e intrigantes do globo, os egípcios, que formaram um poderoso “império” a 4 mil anos atrás. Portanto, toda essa riqueza cultural e natural existente no continente, torna a África um espaço muito particular.
Em conseqüência a esta diversidade, não é tarefa fácil dividir a África por regiões devido a sua heterogenidade ao longo do continente. Porém, pode-se definir duas formas básicas de classificação regional: as questões físicas (localização geográfica) e questões humanas (cultura/ocupação)


África: cinco regiões num continente
Ao visualizar um mapa da África, pode-se ver que dividir o mesmo por regiões a partir da sua localização espacial nos sentidos Norte, Sul, Leste e Oeste é bem possível. Dessa forma, classifica-se o continente em cinco regiões distintas quanto a sua posição geográfica: Norte da África, Oeste da África, África Central, Leste da África e Sul da África.

Norte da África: como o próprio nome já diz, é a área situada ao norte do continente e que vem a ser banhado pelo Mar Mediterrâneo, em sua maioria, fazendo parte desta região cinco países. Também não se pode esquecer que ao sul desta região se encontra o deserto do Saara.

Oeste da África: é uma região muito confusa do ponto de vista político. São quinze nações que dividem um espaço caracterizado por áreas desérticas (Saara, ao norte) e florestas tropicais. Em sua economia local, a exploração de petróleo destaca-se com uma atividade bem atraente para os países.

África Central: caracterizada pelos inúmeros conflitos da década de 90 que marcaram profundamente a região, a África Central ficou conhecida no mundo pelos conflitos no Zaire que o transformaram em República Democrática do Congo. Oito países fazem parte desta região, destacada por grandes florestas tropicais em razão de estar na latitude 0 do globo.

Leste da África: também conhecida como “Chifre da África”, por sua forma física do extremo leste africano, é uma área bem diversificada por ter países bem estruturados e urbanizados, como é o caso do Quênia, e em contraponto a isto, existe à Somália e Etiópia, nações mergulhadas em problemas gerados pelas suas guerras civis. Nesta região encontram-se dez países bem distintos, tantos nos aspectos físicos como humanos. É na divisa entre Uganda, Tanzânia e Quênia que existe o lago Vitória, que é considerado a nascente do rio Nilo.



Sul da África: o extremo sul africano é representado pelas diferenças existente ente os onze países no campo sócio-econômico, principalmente, pois o contraste entre a África do Sul, nação bem desenvolvida, se comparada aos outros países africanos, em relação aos demais é visivelmente percebido. Este país exerce um poder centralizador nesta região, onde a economia é seu ponto forte. Observa-se também uma diversidade natural neste espaço, em razão de possuir grandes vales férteis e vastos desertos como o Kalahari, sendo no delta do Okavango (Botsuana) acontece uma das maiores e mais impressionantes migrações do mundo, a dos gnus.