sexta-feira, 1 de maio de 2009

Por que é tão importante brincar?



As crianças saudáveis não precisam aprender a brincar. Esta atividade é natural e é o maior desejo infantil. É tão comum ver uma crianças brincando que, se ela não o faz, achamos que ela possa estar triste e desinteressada, e pensamos que alguma coisa pode estar errada, ou que ela até esteja doente.
O importante para poder desenvolver atividades lúdicas é ter contato com um ambiente que permita ao bebê se soltar livremente e confiar nos braços de um adulto. Isto acontece quando uma mãe intuitiva e tranqüila estabelece uma relação saudável, sensível e brincalhona com seu filho.
Os primeiras passos na brincadeira
Este tipo de atividade aparece ao redor dos quatro meses de vida. Neste momento são produzidas mudanças no corpo do bebê, que facilitam a observação de seu contexto mais próximo. Ele começa a ser capaz de controlar alguns movimentos, coordena o deslocamento da visão e pode aproximar a sua mão até do objeto que havia focalizado. Até os dois anos, a brincadeira é uma atividade experimental e repetitiva, que tem como objetivo principal explorar as propriedades do mundo físico. É por isso que a criança toca, arrasta, sacode, alcança, bate, arremessa e recupera, esconde e volta a encontrar. Esta etapa permite exercitar e estabelecer as bases da conduta exploratória, tão fundamental para a vida futura.
A “brincadeira simbólica”
A partir dos dois anos começa a se manifestar a “brincadeira simbólica” ou de representação. A criança imagina situações e objetos que na realidade não estão presentes, dando asas à imaginação. Quando três cadeiras se transformam em um ônibus e ela mesma é o motorista, está construindo, dentro do seu universo de ficção e com elementos mínimos, todo um mundo que na
realidade não está ali. Diante da “brincadeira simbólica” a criança estimula sua imaginação e sua inteligência e, em conseqüência, sua capacidade de pensar.

A brincadeira como meio de aprendizagem
A atividade lúdica é o único meio de aprender que as crianças possuem. A brincadeira permite que elas desenvolvam ações espontâneas e eficazes que enriquecem seu conhecimento, dando-lhes a possibilidade de encontrar novos caminhos, novas respostas e novas perguntas. Na brincadeira elas podem errar ao falar, e ao voltar a brincar em liberdade e sem pressões, aprender com o erro e assim desarmar juízos qualificatórios.

Aprender a viver em sociedade
Por meio da brincadeira, a criança se incorpora no mundo da relação com os outros, primeiro com seus pais e mais tarde com seus pares. Brincar compreende as graduações emocionais diferentes que acompanham as relações humanas. Com a brincadeira, elas aprendem a conhecer umas às outras, aprendem a saber o que esperar de si mesmas, a se conhecer, a saber até onde podem chegar e em que circunstâncias. Tudo é configurado com a articulação do velho (o conhecido) e o novo (o imaginado), sob a marca da tranqüilidade emocional que proporciona a consciência de que isso “é somente uma brincadeira”. Constrói-se o conhecimento e a identidade pessoal e social. Pratica-se o mundo das intenções, os motivos, os interesses, os estados de ânimo e as expectativas dos outros. É a melhor forma de articular as iniciativas próprias com as intenções e os estados de ânimo dos outros.

Permitir a liberdade e a originalidade

Por outro lado, brincar é se livrar dos disfarces estabelecidos pela cultura e poder usar os que elas mesmas inventam. Brincar com o personagem que a criança viu, que causou impacto, fazer o que quer, resolver tal situação do jogo com uma lógica inédita e própria permitida dentro da brincadeira, talvez não tolerada na realidade externa. Na brincadeira tudo vale e essa é a sua maior riqueza. A liberdade de criar normas próprias e válidas para os que estão brincando, ainda que não tenha nada a ver com o permitido. A diversão, a transgressão, o sorriso, a mentira e a imaginação encontram via livre para se expressar. Brincar com o outro, se sentir aceito, tolerado,
realizar fantasias, ter a oportunidade de ser o que quiser.
Expressar e dominar as emoções
Através da atividade lúdica as crianças aprendem a administrar seus sentimentos: agressividade, angústia, medo, amor. Têm a possibilidade de reproduzir a realidade e transformá-la, segundo seus desejos e necessidades, liberando com eles tensões e angústias e dando alívio às situações que foram frustrantes e dolorosas. Enfrentar o novo e o desconhecido produz temor e ansiedade, mas por meio da brincadeira o sinistro se transforma em fantástico e o conflito é expulso. Por exemplo, se uma criança está para mudar de escola, poderá brincar com todas as emoções que isso desperta: será a vez da professora e o novo integrante do grupo, seus jogos preferidos passarão a representar seus companheiros, sentirá a necessidade de superproteger o recém-chegado, será admirado por sua capacidade de jogar bola, etc. Irá recriar a situação várias vezes até que possa processá-la e não sentir mais tanto medo.

Estratégia para conhecer nossos filhos
A brincadeira é uma excelente forma de conhecer os próprios filhos. Quando brincam, eles se mostram como são. Os papéis e as atitudes que adotam e as coisas que dizem nos falam de suas tendências e impulsos, de seus conflitos com valores naturais, de seus desejos. Também nos falam de nós mesmos. No momento em que nossa filha conversa com a sua boneca, veremos retratado nosso modo de repreender, nossos gestos, e nosso tom de voz e por sua vez, seus desejos de ser compreendida e aceita.
Nós aprendemos brincando. Por isso é tão importante estimular em nossos filhos esta capacidade, compartilhando com eles estes momentos tão especiais que trafegam entre o imaginário e a realidade. Uma criança que não pode brincar será um adulto que não pode sentir, se relacionar, criar e pensar.



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