terça-feira, 20 de outubro de 2009

4 mitos e uma verdade


Entrei no blog da Silvana Marmo e fiquei encantada com o rico material para trabalhar em HTPC's que ela disponibiliza. Este aqui é só um deles:

Paulo de Camargo
Número de alunos, salário de professores... O que é realmente determinante na qualidade da Educação brasileira? Aumentar o salário dos professores resolve o problema da educação? Salas com 40 crianças ou mais são o fim da picada? Convidamos alguns dos maiores especialistas na área para avaliar cinco conceitos cristalizados. Prepare-se para as surpresas. A educação é um território fértil para palpites. "Talvez porque, de uma forma ou de outra, todos fomos educados, e dessa história pessoal tiramos nossas conclusões, em geral muito superficiais e sempre fora de época", afirma o psicólogo e consultor José Ernesto Bologna, de São Paulo, analisando a aparente trivialidade com que é tratado o desafio de educar. Ele compara: "A situação é bem diferente, por exemplo, no plano da engenharia, um conjunto de buscas e soluções técnicas, apoiadas por uma ciência, a física, e uma linguagem objetiva, a matemática". Que tal colocar sob análise rigorosa alguns dos conceitos mais divulgados atualmente como parte do receituário para melhorar a qualidade da educação? Pois bem, fazendo isso, afirmações aparentemente incontestáveis se revelam mitos, sofismas ou meias-verdades que só atravancam a discussão.


Mito 1: Para melhorar a educação pública, basta aumentar o salário dos professores
É quase senso comum: o primeiro passo para aprimorar a educação seria elevar os gastos públicos na área, principalmente para pagar mais aos professores. Até há pouco tempo, refutar uma premissa como essa dependia, sobretudo, de coragem. Nos últimos anos, porém, diversas pesquisas vêm contestando a relação direta entre o poder do dinheiro e a qualidade do ensino. Em outubro passado, a pesquisadora egípcia Mona Mourshed, Ph.D. pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, apresentou em São Paulo o estudo "Como os melhores sistemas educacionais do mundo chegaram ao topo". O trabalho, realizado pela consultoria internacional McKinsey, radiografou as práticas de 20 sistemas de reconhecido sucesso e constatou que muitos países, como a Austrália e a Alemanha, duplicaram os investimentos em educação entre 1970 e 1994 sem alcançar qualquer melhoria. Nessas nações, a aprendizagem só foi reforçada quando os governos implantaram políticas eficientes para valorizar o professor. Isso foi feito não com salários acima da média, mas especialmente com maciços investimentos em capacitação e condições de trabalho, aliados a estratégias para elevar o prestígio social do educador - até mesmo com campanhas publicitárias. Claro: não quer dizer que educadores devem ganhar mal. Pelo contrário, precisam de salários dignos para que possam, inclusive, ter uma vida cultural intensa e não sejam obrigados a cumprir jornadas em mais de uma escola para pagar as contas do mês. "Mas não adianta apenas aumentar o salário sem tomar outras medidas", defende a secretária da Educação do estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro. Para ela, embora os salários brasileiros sejam inferiores ao desejável, há outras condições necessárias para produzir qualidade. "Em alguns lugares, os salários são mais altos do que a média, o que não obrigatoriamente resulta em uma educação melhor. É preciso que haja boa gestão, um currículo organizado, com expectativas de aprendizagem elevadas, professores motivados, materiais didáticos diversificados e formação continuada."

Mito 2: É impossível ensinar em salas de aula com mais de 40 alunos
Um estudo realizado em 2008 pela Fundação SM, entidade que investe em projetos educativos em países de língua espanhola e portuguesa, e pela Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI) mostrou que 53% dos professores brasileiros estão descontentes com o alto número de alunos em sala de aula. Mesmo na rede particular, ao escolher uma escola os pais querem saber com quantos outros alunos seu filho estudará. "Em todo o mundo é assim", diz Mona Mourshed. Parece fazer sentido: com menos alunos, os professores teriam mais condições de controlar a turma e dar atendimento individualizado. Recentemente, porém, a consultoria McKinsey reuniu 120 estudos a esse respeito: 89 deles não estabeleciam uma relação significativa entre tamanho da sala e aprendizagem. Outros nove ainda encontraram em salas grandes um fator positivo. "A Coréia, um dos cinco países com melhor educação, coloca até 60 alunos nas salas", afirma Claudio de Moura Castro, ex-diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a área de educação. "As pesquisas mostram exaustivamente uma ausência quase total de associação entre tamanho das classes e resultados." Até na questão comportamental, as classes numerosas parecem levar vantagem. O psicólogo José Ernesto Bologna lembra que o papel da escola é também o de socialização. "A escola não deve repetir as proteções da casa", afirma. Segundo ele, as salas de aula maiores exigem mais disciplina, portanto mais capacidade de respeito, importante na formação para a vida.



Mito 3: Professor bom é professor que reprova
Pergunte a alguém com mais de 40 anos sobre quem foi um bom professor. Muito provavelmente, ele vai lhe descrever um profissional sisudo, exigente, que esbanjava conhecimento e, sobretudo, reprovava. Hoje, a lógica não é mais a do ensino, mas a da aprendizagem. Há um consenso entre os pesquisadores de que o bom professor é aquele capaz de conduzir o maior número de estudantes ao aprendizado. Ou seja, classes com excesso de alunos com dificuldades indicam que o educador não está conseguindo encontrar caminhos para motivá-los e ensiná-los. Por outro lado, reprovar os que não aprenderam não é necessário? Essa é uma questão complexa. Na rede pública, as pesquisas mostram que passar novamente pelos mesmos conteúdos não faz com que repetentes aprendam mais. O caminho mais provável é abandonar os estudos, depois de muitas tentativas. "Precisamos de uma escola em que os alunos aprendam e, portanto, em que a reprovação deixe de ser um assunto candente", defende Claudio de Moura Castro. Mas essa regra tem exceções. Para Maria Helena Bresser, diretora da Escola Móbile, em São Paulo, embora a repetência seja sempre um tema delicado para as famílias e para os alunos, há situações em que traz benefícios. No caso das crianças, pode representar uma chance de recomeço quando a auto-estima já foi afetada pelos contínuos insucessos; para os adolescentes, costuma induzir a uma mudança de atitude diante dos estudos. Maria Helena alerta, contudo, que a reprovação nunca deve acontecer por um fator isolado, como a dificuldade numa matéria específica.

Mito 4: Escola particular é sempre superior à pública
A crise do ensino público é relativamente recente. Foi a partir do final da década de 60 e sobretudo nos anos 70 que a escola pública incluiu uma massa colossal de crianças, que até então não tinha acesso à escola; ao mesmo tempo, perdeu a classe média, que escolheu pagar o preço da rede privada em vez de pressionar os governos a priorizar a educação. Porém, é falso pensar que a escola particular sempre é melhor do que a pública. "Escolas públicas que recebem alunos de origem social mais elevada são tão boas quanto as privadas", assegura Claudio de Moura Castro. Ele também lembra que mesmo escolas mais pobres, mas com a comunidade muito presente, podem apresentar resultados elevados. "São Brás do Suaçuí (MG) obteve 5,6 pontos no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Ficou, portanto, a quatro décimos da média da Europa. É uma cidade sem indústria e sem turismo. Sua riqueza é a atenção e o carinho que a comunidade dedica a suas escolas."

Verdade: Quanto mais tempo de estudo na escola, melhor
O tempo de permanência é um fator decisivo em atividades de aprendizagem. Na Finlândia, que hoje tem o melhor ensino do mundo, o dia escolar começa entre 8 e 10 horas da manhã e termina entre 13 e 16 horas, com um currículo forte nas áreas acadêmicas, mas que não deixa de lado a música e as artes plásticas. Também é previsto tempo extra para alunos com dificuldades específicas de aprendizagem. Cerca de 30% deles recebem esse apoio - não como um castigo, mas como um presente. A escola de tempo integral tende lentamente a ser incluída nas políticas públicas brasileiras, a exemplo do que já ocorre em algumas particulares, com aulas que se iniciam em torno das 8 da manhã e seguem até as 15 horas. "O tempo médio de permanência do aluno na escola, nos países com melhores indicadores de qualidade, é de seis horas diárias. Mais do que isso também pode ser desestimulante para os alunos", lembra a secretária Maria Helena Guimarães, que tem em sua rede cerca de 500 escolas com tempo estendido.


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