sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

DUAS FÁBULAS SOBRE A DISSIMULAÇÃO

O maior fabulista francês, Jean de La Fontaine (1621-1695), uma vez inquirido sobre a recorrente presença dos animais em seus textos, foi pedagógico em sua asserção ao afirmar: “Sirvo-me dos animais para instruir os homens.”

As duas fábulas abaixo transcritas demonstram que, para sobreviver, é preciso estar alerta às armadilhas da dissimulação e às artimanhas da astúcia. Um oponente conhecido é menos danoso que um amigo hipócrita. As pessoas falsas são piores que os inimigos ferozes.

A aranha, o gafanhoto e o camaleão

A aranha, o gafanhoto e o camaleão habitavam o aprazível bosque da cidade. Conviviam a uma distância razoável, pois, reciprocamente, temiam as artimanhas que sempre eram recorrentes.

A aranha foi a primeira a urdir:

— Meu caro gafanhoto, sejamos previdentes e cuidadosos! O camaleão é o rei dos disfarces, muda de cor e nem percebemos.

— É mesmo! — completa o gafanhoto. Ele fica nos troncos das árvores com cara de boi-sonso e é só passar por perto que ele estica aquela língua imensa e... “crau!”.

— Sim, companheiro, sempre alerta! — continua a aranha. — Eu passo o dia fiando, mas é um olho na teia, o outro no camaleão. Você sabe: o seguro morreu de velho. Precaução e caldo de galinha não fazem mal a ninguém, dizia a minha avó.

— Belos conselhos, Dona Aranha. Esse camaleão é o mestre da desfaçatez, é o rei da dissimulação.

— Vá por mim! Dificilmente eu me engano! E tem mais — disse a aranha sussurrando.

— O camaleão tem uma armadilha mortal! Chegue mais perto, meu caro amigo gafanhoto, que eu lhe contarei.

Ingenuamente, o gafanhoto se aproxima e se enrosca todo na teia. Diante da morte certa, fica a pensar o quanto foi bobo em confiar na ardilosa aranha.

A rã e o escorpião

O fogo crepitava feroz e avassalador. Na margem do largo rio que permeava a floresta, encontram-se a rã e o escorpião.

Lépida e faceira, a rã prepara-se para o salto nas águas salvadoras. O escorpião — que não sabe nadar — aterroriza-se ante a morte iminente: ou estorricado pelas chamas ou impiedosamente tragado pelas águas revoltas.

Arguto, e em um esforço derradeiro, implora o escorpião:

— Bela rã, leva-me nas tuas costas na travessia do rio!

— Não confio em ti! Teu ferrão é inclemente e mortal — responde a rã.

— Jamais tamanha ingratidão. Ademais, se eu te picar, morte certa para nós dois.

— É verdade, pensou candidamente o bondoso batráquio. — Então, suba!

E lá se foram, irmanados e felizes. No entanto, no meio da travessia, a rã é atingida no dorso por uma impiedosa ferroada. Entremeando dor e revolta, trava o derradeiro diálogo:

— Quanta maldade! — exclama a rã, contorcendo-se. — Não vês que morreremos os dois?!

— Sim. — responde o escorpião. — Mas esta é a minha natureza!


Jacir J. Venturi é professor, diretor de escola e autor do livro Da sabedoria clássica à popular.

Fonte: http://blog1.aprendebrasil.com.br/articulistaOutros


2 comentários:

Anônimo disse...

Muito legal...
Adoro fábulas e amo animais.
Bjs.
Um lindo dia.

Vânia disse...

vim so dizer um ola
bjs mil